Em seis meses, preço do leite sobe 60% em Santa Maria

Quem está acostumado ir ao supermercado nas últimas semanas está acompanhando o aumento elevado nos preços do leite e seus derivados, como o queijo. Só neste ano, o litro do leite subiu aproximadamente 60%. Os principais motivos seriam o aumento dos custos na produção e a escassez do produto devido à estiagem no verão

No aplicativo Menor Preço, da Nota Fiscal Gaúcha, era possível encontrar o litro do leite, na quarta-feira (06), entre R$ 5,50 e R$ 9,98. No início do ano, o leite comum era vendido entre R$ 3 e R$ 4,50.

– Está difícil até de conseguir o leite. Algumas indústrias não têm leite para entregar. Tem uma marca que nós pedimos faz 10 dias e só vão entregar a partir de 10 de julho. Não tem leite para entrega – informa Adriano Dornelles Rodrigues, responsável por um supermercado de Santa Maria.

Para o consumidor, muitas vezes, resta pesquisar e aguardar as promoções, como é o caso da aposentada Margarete Quinhones da Silva, 54 anos.

– Não está mais conseguindo se comprar o leite. Está muito caro. Tudo está caro, nada está barato. Não sei como vai ficar essa situação – diz.

A enfermeira Silvana Sancandi, 43 anos, lamenta a dificuldade de quem precisa comprar  leite toda a semana:

– Está uma situação bem complicada. A gente só escuta notícia desesperadora. Já vem para o mercado sabendo que vai ser um baque no orçamento. No meu caso, que só tem adultos em casa, consigo controlar, mas se pensar numa família que tem uma criança ou idoso que precisa de uma quantidade de leite, está bem difícil de conseguir isso – contou Silvana, enquanto fazia compras em supermercado na manhã de quarta-feira.

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Inverno

Segundo o economista  Mateus Frozza, professor da Universidade Franciscana (UFN), o aumento do preço e a falta de leite nos supermercados estão relacionados a multifatores. No entanto, os principais seriam a época do ano e a redução de produtores que estão se dedicando à cultura do leite no Estado (leia mais abaixo).

– Tradicionalmente, o leite aumenta no inverno, aumenta o consumo. Assim como aumenta o consumo de cerveja no verão. Isso é tradicional no comportamento do consumidor. O que chama a atenção é o preço passar a barreira dos R$ 7. Isso nunca aconteceu. Isso se dá porque a pequena propriedade, o pequeno produtor está parando de trabalhar com o leite, porque isso não é rentável. Não está valendo a pena – observa o economista.

Metade dos produtores gaúchos abandonou a atividade leiteira nos últimos anos

A diminuição de produtores que atuam na cultura do leite é confirmada pela Emater Regional. Conforme o assistente técnico regional, Pedro Urubatan Neto da Costa, cerca de 50% deixaram de trabalhar com o gado leiteiro em todo o Estado nos últimos sete anos. Com isso, a oferta do produto é menor que a demanda, causando escassez do leite e aumento nos preços.

Outro fator foi a maior estiagem nos últimos 70 anos, que impactou na qualidade da pastagem e no peso dos animais, aumentando ainda mais o custo de produção.

– A redução está relacionada à estiagem, pois teve uma redução na produção, e também à elevação dos custos na produção, principalmente na alimentação do gado. O produtor investe menos, como consequência, produz menos. Isso provoca escassez e redução do produto no mercado. Os produtores sofrem muito com a questão dos custos. Houve um aumento significativo. A margem de lucro do produtor reduziu muito, chegando a níveis quase insuportáveis. A gente observa a saída de produtores abandonando a atividade – afirma o técnico regional da Emater.

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Costa afirma que, apesar do aumento significativo dos preços nos supermercados, o produtor passou a receber apenas 4% de aumento pelo litro do leite. Segundo os dados da Embrapa, existe uma defasagem para o produtor de 30% do começo da pandemia até o momento, entre os custos de produção e os insumos.

Conforme a Emater Regional de Santa Maria, o preço do leite pago ao produtor teve aumento de 20% em 2022. Em janeiro, o litro era vendido às empresas por R$ 1,91, valor que em junho estava em R$ 2,30.

José Quintana Jr, jose.quintana@diariosm.com.br

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